A alimentação que diariamente ingerimos interfere directamente com a nossa saúde. No que se refere à saúde mental, muitas vezes tão descuidada e não valorizada pelos Portugueses, alterações significativas na forma como ingerimos (ou não ingerimos) alimentos podem estar associadas a alterações emocionais que em casos mais graves levam a perturbações do comportamento alimentar.

A Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa são diagnósticos inseridos nas perturbações do Comportamento Alimentar. Atingem maioritariamente jovens do sexo feminino, embora também se assista a um crescimento do número de casos para o sexo masculino. Ainda que a maioria dos casos assinalados se prendam com a fase da adolescência, é certo que pode ocorrer na primeira e na segunda infância, bem como mais tarde na idade adulta. A Anorexia e a Bulimia revelam-se assim como psicopatologias transversais a todas as idades.

As características principais da Anorexia Nervosa resultam de uma necessidade elevada de manter o peso corporal num nível inferior aos limites mínimos bem como um medo desmesurado em aumentar o peso. Por isto, a pessoa com Anorexia Nervosa, desdobra-se em estratégias obsessivas para o controlo do seu peso. Existe, acima de tudo, uma alteração da percepção na pessoa com este diagnóstico, uma vez que a percepção do seu corpo não corresponde à realidade. Devido a esta alteração da percepção, mesmo que o peso seja baixo, a pessoa percepciona-se com excesso de peso.

O comportamento alimentar da pessoa anoréctica reflecte-se no controlo obsessivo pelas calorias ingeridas, pela evitação das horas das refeições, pela diminuição do peso, por mentir a respeito da comida, pela prática excessiva de exercício físico, pela roupa que veste ser larga de forma a ocultar o seu peso, por dormir excessivamente, pela intensa irritabilidade, pela perda de menstruação (amenorreia), pelo surgimento de doenças e pelo interesse repentino sobre informações relacionadas com a perda de peso, dietas, etc.

A Anorexia Nervosa é uma doença muito grave com riscos clínicos acentuados: desnutrição, desidratação, anemia, amenorreia, osteoporose, alterações gastrointestinais, infertilidade, diminuição da massa muscular, hipotensão, insuficiência renal, infecções no sistema imunológico, depressão, problemas cardíacos, entre outros. Factores como o isolamento e o comportamento autodestrutivo anteriormente referido podem conduzir à morte por desnutrição.

O que caracteriza essencialmente a Bulimia Nervosa é a presença de vários episódios em que a pessoa bulímica ingere quantidades elevadas de alimentos aos quais se seguem compensações inadequadas como por exemplo: recurso ao vómito, abuso de laxantes, uso de diuréticos, entre outros, como forma de evitar o aumento de peso.

A diferença entre a Bulimia e a Anorexia é que na Bulimia pode não haver perda de peso e as estratégias alimentares são diferentes. Pode existir excesso de peso nas pessoas bulímicas.

A alimentação da pessoa bulímica é caracterizada pela ingestão compulsiva e descontrolada de alimentos, sobretudo, com alto teor calórico que provoca muitas vezes sentimentos de vergonha e de culpa. Esta ingestão é habitualmente feita em segredo. Após estes episódios de ingestão, seguem-se comportamentos compensatórios para remediar o que foi ingerido. Neste sentido, a pessoa bulímica provoca o vómito e recorre a todas as estratégias possíveis para o corpo eliminar o que ingeriu. Com o abuso destes recursos, a pessoa consegue mesmo chegar a vomitar quando quer e com bastante rapidez e eficácia. O jejum também é uma estratégia para tentar eliminar o que foi ingerido bem como a prática exagerada do exercício físico.

Como consequências da Bulimia Nervosa ressalta-se o mau funcionamento renal e cardíaco, dificuldade na concentração, alterações no humor, problemas dentários, dores de garganta, depressão, cabelo e unhas enfraquecidos, hipoglicémia, problemas gastrointestinais, fadiga, entre outros.

O tratamento da Anorexia Nervosa e da Bulimia Nervosa é multidisciplinar envolvendo psicólogos, médicos e nutricionistas. Se possível, o ideal é prevenir! Prevenir o evoluir da doença, ou seja, havendo já sinais de uma possível perturbação do comportamento alimentar, o (a) doente deverá ser motivado a pedir ajuda especializada. Muitas vezes, o (a) doente não assume esta realidade. Aqui o apoio da família ou das pessoas que o (a) rodeiam é muito importante na motivação para procurar ajuda psicológica. Por trás de um corpo desnutrido ou de um corpo bulímico está alguém em sofrimento psíquico. O corpo acaba assim por dar voz à dor emocional, daí ser importante o acompanhamento adequado e direccionado à origem do problema.

Não sendo possível a prevenção e estando já numa fase mais avançada, a família ou as pessoas que rodeiam o (a) doente devem actuar o mais brevemente possível.

O primeiro passo é consultar um médico para que seja avaliada a extensão do problema. Se houver risco de vida, o internamento pode ser a solução mais segura até ser atingido um peso mais adequado e ser assegurado a reposição de todos os nutrientes necessários ao bem-estar do organismo.

O segundo passo é o acompanhamento nutricional e psicoterapêutico. A reeducação alimentar é muito importante para a estabilização do organismo e para dar continuidade à reabilitação física.

O acompanhamento psicoterapêutico é essencial para trabalhar todas as questões que conduziram o doente à anorexia ou bulimia. A alteração do comportamento alimentar destrutivo passa pela compreensão da origem do problema seguida de restruturação cognitiva para que os pensamentos destrutivos sejam alterados para pensamentos mais saudáveis. Além do foco na doença, são também trabalhadas outras questões que remetem para auto-estima, autoconfiança, o conhecimento de si, entre outros aspectos, que por sua vez, estiveram relacionados com o motivo do acompanhamento.

Esteja atento aos sinais e acompanhe de perto quem tem tendência para se isolar. O (a) doente anoréctico ou bulímico é muito hábil na dissimulação do seu comportamento e por isso é difícil muitas vezes a própria família detectar a existência de uma destas doenças.

Cuide de si, valorize a sua saúde mental (e a dos seus)!

Primeira publicação: http://consultaclick.pt/blog/2011/12/16/disturbios-alimentares-abordagem-psicologica/