Enquanto nos caem os dentes de leite, sonhamos ser astronautas, princesas, jogadores de futebol ou bailarinas. Depois, a escola vai alargando-nos os horizontes e as costureiras, os polícias, os professores ou até as profissões exercidas pelos nossos pais são as que mais nos fazem o coração palpitar. O pior é quando vem o 12º ano e os nossos sonhos esbarram como nuvens à hora de jantar, quando os noticiários anunciam crise de megafone e nos tiram até a vontade de comer a sobremesa…
No entanto, a melhor receita para a indigestão noticiosa sobre a crise de empregos é uma boa dose de persistência, umas pitadas de confiança e estudo q.b. Escolhas o que escolheres, agora que já és grande, vai tudo correr bem – lembra-te da música que cantava a Doris Day, no filme de Alfred Hitchcock “O homem que sabia demais”, “Qué Será, Será/ Whatever will be, will be/ The future’s not ours, to see/ Qué Será, Será/ What will be, will be”.
Não é preciso um álbum com fotografias a preto e branco para perceberes que o tempo passa, os estilos de vida mudam e as tendências profissionais acompanham, sem ripostar, a modernidade. A Tecnologia avança a galope e hoje são muito poucos os profissionais que não utilizam a Internet no seu local de trabalho, por exemplo, cenário que há 15 anos era impensável, a não ser nos filmes de ficção científica mais rebuscados. O que quer isto dizer? Que há uma lista de profissões do futuro que reinventam completamente as ideias que muitas vezes preconcebemos na cabeça acerca de profissões que se dedicam apenas a uma área de trabalho. Assim, as Tecnologias de Informação, o Setor da Saúde aplicado aos cuidados da terceira idade, a Nanotecnologia, as Energias Renováveis, o vasto leque das Terapias Alternativas, o Coaching ou toda a área de Lazer e Bem-Estar muito em voga atualmente são hipóteses em plena expansão – que podem ser exercidas a partir de uma variedade bastante grandede Licenciaturas e Mestrados à tua disposição.
No entanto, da Licenciatura à escolha da mesma vai um passo de gigante e, infelizmente, por motivos económicos ou outros de vária ordem, nem sempre nas Escolas Secundárias e Profissionais há um profissional psicólogo a tempo inteiro que possa dar uma ajuda no acompanhamento regular dos alunos indecisos, confusos ou mesmo preocupados com o seu futuro profissional – quer na escolhas de agrupamentos/ áreas no 9º ano, quer na escolha dum curso superior, já no final do 12º ano. Para Sofia Soares Pereira, Psicóloga Clínica e da Saúde e Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos, “As escolas têm milhares de alunos e, sendo este acompanhamento de índole individual e também em grupo, seria necessário uma equipa de psicólogos por escola/agrupamento. Neste sentido, o papel do psicólogo junto dos alunos deveria estar direcionado para a área do acompanhamento psicológico, psicopedagógico, orientação escolar e vocacional, dinamização de várias ações pedagógicas de grupo, como por exemplo, estratégias/métodos de estudo, prevenção de comportamentos de risco, gestão de conflitos, entre muitas outras”. Quando o drama de optar por uma área engloba, além da comunidade escolar, os pais e família do aluno, Sofia Soares Pereira refere que aí o assunto torna-se mais melindroso, já que “Em relação à opinião dos pais e dos professores, esta é de facto importante. Por terem experiências diversas, por conhecerem o mercado de trabalho e por diversas outras razões são capazes de opinar sobre este assunto. No entanto, opinar é diferente de pressionar que, por sua vez, é diferente de decidir pelo jovem. Pais e filhos devem conversar sempre que necessário sobre o assunto e sobretudo ouvir os filhos naquilo que eles têm a dizer sobre si e sobre estas dúvidas e ansiedades que geralmente rondam e permanecem nesta fase”.
Testes psicotécnicos: funcionam mesmo ou são mito urbano?
Conhecidos por muitos dos alunos do Ensino Básico e do Secundário, este é um método frequentemente utilizado nos gabinetes de psicologia das instituições de ensino pré-universitário. Mas será que funcionam mesmo? Eis a questão. “Os testes psicotécnicos não deveriam ser o centro de uma orientação escolar, porque um jovem é muito mais que aptidões extraídas de testes analisados informaticamente. O jovem pode ter interesses diferentes dos que se enquadram nas suas aptidões, por isso, a orientação escolar e vocacional não se deve basear apenas em testes psicotécnicos. Estes, são um meio complementar que auxilia o aluno nesta fase.”, refere a psicóloga, ao mesmo tempo que acrescenta o facto de que “supostamente, os psicotécnicos deveriam entrar após a realização de uma entrevista individual em que se exploram fatores importantes, como por exemplo: os interesses profissionais do aluno, as suas motivações, os seus objetivos, como é que ele se vê em determinadas profissões, o seu método de estudo, as áreas de que mais gosta e as de que menos gosta, entre muitos outros”, contudo isto nem sempre acontece devido a às limitações materiais e humanas existentes em muitas das escolas.
Como podem os pais ajudar a atenuar o medo de falhar dos filhos?
“É importante compreender o lado dos pais e o lado dos filhos. Noto no acompanhamento aos pais que há uma tendência forte para colocar nos filhos aquilo que os próprios pais gostam ou ambicionam, esquecendo-se que talvez não seja exatamente a mesma coisa que os filhos querem. Os filhos estão a desenvolver a sua capacidade de autonomia e a definir a sua identidade, por isso, espera-se que a decisão final seja avançada pelo filho. Os pais ajudam quando proporcionam um ambiente de diálogo aberto sobre estes assuntos, quando promovem esta autonomia e quando conseguem separar aquilo que é ambição própria das ambições dos seus filhos.”, começa por dizer Sofia Soares Pereira, lembrando que situações escolares mais extremas como o mau comportamento, avaliações negativas ou chumbar o ano devem ser alvo de reflexão por pais e filhos. “Tentar perceber o porquê destas situações estarem a acontecer com os filhos é mais importante que por exemplo, criticar o aluno. Há diversas causas que estão na origem do mau comportamento e do baixo desempenho escolar e é na medida que se consegue olhar para estas causas que se pode obter mudança. Dificuldades de aprendizagem, desmotivação para a escola, falta de objetivos, baixa autoestima, entre muitas outras causas devem ser sujeitas a análise.”
O medo da falha ou o medo do erro é algo que acompanha as pessoas de qualquer idade, acrescenta esta profissional, convencida de que se olharmos para a falha ou para o erro sem medo, com certeza que os resultados serão mais positivos. “A maioria das pessoas lida mal com o erro, esquecendo-se que é através do erro que é possível fazer mais e melhor. Não é possível crescer e aprender enquanto crianças, jovens e adultos sem ter acesso ao erro ou à falha. É desta forma que é possível atenuar o medo da falha – se todos olharem de frente para os seus medos, eles com certeza diminuem de tamanho.”
Primeira publicação na Revista Mais Educativa: http://www.maiseducativa.com/2012/05/10/o-que-vais-ser-agora-que-ja-es-grande/
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