A avaliação psicológica é uma área da Psicologia muito importante que surge com bastante frequência no trabalho do psicólogo. A necessidade da aplicação de provas, quer sejam de inteligência, de aptidões, de linguagem, de personalidade, entre outras, é transversal à psicologia. Assim, a avaliação psicológica não deve pertencer apenas ao domínio clinico, mas sim ser transversal a todas as áreas da psicologia. Este artigo expõe, de forma breve, as áreas de actuação de uma das provas projectivas de personalidade mais completas ao nível do Psicodiagnóstico – O Rorschach.

O Psicodiagnóstico Rorschach publicado em 1921, após várias tentativas sem sucesso pelo autor Herman Rorschach, é hoje utilizado em todo o mundo nas áreas da justiça, clínica, educação, neurociências, social e do trabalho, investigações, entre outros.

Juntando a orientação psicanalítica e os saberes de Bleuler e Jung, o trabalho polémico de Herman Rorschach suscitou interesse em muitos autores. Antes da sua publicação, os resultados que Rorschach obteve com o seu trabalho eram suficientes para demonstrar que este método possuía (e possui) uma considerável utilidade diagnóstica, especialmente porque na altura ainda se estudava muito sobre a identificação de doentes esquizofrénicos.

Durante a investigação, descobriu também que as altas frequências de certos tipos de resposta (especialmente as de movimento e as de cor) estavam relacionadas com diferentes características psicológicas e/ou comportamentais. Por conseguinte, o método ofereceu também a possibilidade de se identificar naquela altura, aspectos da pessoa que actualmente na psicologia contemporânea se denominam por traços, carácter ou estruturas de personalidade.

Depois do falecimento inesperado do autor, várias foram as escolas Europeias e Americanas que se dedicaram ao seu estudo e investigação.

Dotado de inigualáveis características é por excelência a prova projectiva de avaliação da personalidade do adulto capaz de avaliar, diagnosticar, prever comportamentos, detectar alterações de pensamento, indícios de depressão, isolamento social, entre outros.

Neste sentido, é compreensível que esta prova requeira alguma aprendizagem e treino na medida em que se debruça sobre uma descrição completa e detalhada do funcionamento psíquico. Esta característica está relacionada com a quantidade e diversidade de variáveis com as suas quase infinitas inter-relações que a prova proporciona, assim como os diferentes tipos de informação que se cria, tudo isto é base do seu potencial.

Existem inúmeras provas de diagnóstico da personalidade, sobretudo questionários e inventários, que exigem preparação para a sua aplicação e interpretação, no entanto, a extensa informação recolhida de um protocolo válido de Rorschach é ajustável e aplicável à multiplicidade de áreas que a Psicologia acolhe.

Na década de 1950 a 1960, o teste de Herman Rorschach (daqui para a frente designado apenas como “Rorschach”), associou-se à psicologia clínica, na medida em que os técnicos de psicologia e psiquiatria utilizavam-no como um meio imprescindível de avaliação e diagnóstico. É um teste que quando bem administrado, codificado e interpretado, contribui para o processo terapêutico com uma grande riqueza de informação. Com esta informação (e outras), faz-se um diagnóstico, estabelece-se planos de tratamento, faz-se prognósticos e descreve-se as características psicológicas do paciente.

Actualmente não é só na psicologia clínica que o Psicodiagnóstico de Rorschach é utilizado. São muitas as possibilidades de utilização desta ferramenta para o diagnóstico da personalidade, como também são ilimitadas as formas que a natureza humana desenvolve para a sua expressão.

Na área da Investigação revela ser polivalente, quer seja na recolha de informações sobre a pessoa, ou na correlação da prova com outras provas psicométricas aplicadas a qualquer perturbação psicológica. Em Neuropsicologia, permite o esclarecimento de questões práticas relacionadas com as perturbações mentais relacionadas com alterações cerebrais. A demência é bastante visível através da aplicação da prova, bem como outro tipo de perturbações neuropsicológicas.

Na área da Orientação Escolar e/ou Profissional, revela motivações inconscientes, conflitos relacionados com a vocação escolar e/ou profissional. Oferece também informações importantes acerca do funcionamento da pessoa em determinadas áreas, revelando também em conjunto com outras técnicas, a confirmação das aptidões. Reconhecendo, por exemplo, que se trata de uma pessoa com níveis elevados de ansiedade, tendência para a depressão ou demasiado perfeccionista, a respectiva orientação vocacional e profissional terá de ter em conta estes detalhes. Por vezes, a prova apresenta indícios de conflito que podem estar na base da indecisão vocacional.

Na área Social, tem sido amplamente utilizada para a selecção de recursos humanos, desenvolvimento de competências e aptidões. Neste sentido, a prova pode ser utilizada no desenvolvimento de competências uma vez que muitas empresas/instituições fazem gestão de carreira com os seus colaboradores. Esta área está normalmente a cargo do departamento de Recursos Humanos e nela trabalham psicólogos (regra geral psicólogos organizacionais ou do trabalho) e técnicos de Recursos Humanos. Na gestão de carreiras, para que haja mobilidade dentro da estrutura hierárquica, é importante explorar competências e saber que “linhas” o psicólogo organizacional deve seguir. Neste sentido, utilizar esta prova vai auxiliar na orientação.

Na área Jurídica, esta prova tem ao longo dos últimos anos contribuído para ajudar nas decisões dos juízes, advogados, ou na orientação de directrizes do tribunal. Quando são solicitadas perícias psicológicas utilizadas judicialmente como um instrumento de natureza psico-sócio-jurídica de acessoria ao tribunal, o Rorschach é um dos instrumentos contemplados. Com base nesta prova conseguimos transmitir informação técnica e especializada sobre as características de personalidade do julgado.

Na área da Educação, revela qualidade nos processos evolutivos de integração das crianças no ambiente que as rodeia, ressaltando as principais defesas e dificuldades, oferecendo directrizes a serem utilizadas pelos psicólogos e educadores.

Não obstante, a peculiaridade dos seus estímulos, a riqueza informativa que gera, a impossibilidade de ser falseado, assim como a possibilidade de integração de dados quantitativos e qualitativos que oferece são, os principais motivos pelos quais se continua a realizar investigações dedicadas à sua eficácia, a mais de 90 anos depois da sua publicação.

 Primeira publicação: http://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?codigo=A0609