Entrevista para a revista Mais Educativa do mês de Setembro 2012:

Psicologia na linha da frente

Foi desde cedo que Sofia Soares Pereira se começou a interessar pela Psicologia, área em que ainda hoje trabalha – e com muito gosto. Atendendo a que a Organização Mundial de Saúde prevê que a depressão seja a principal doença do século, “não é difícil imaginar que quem devia estar na linha da frente deste enorme problema psicossocial seriam psicólogos e psiquiatras”, alerta esta profissional.

Quando é que percebeu que queria ser psicóloga?

No meu caso, desde cedo comecei a interessar-me pela Psicologia. Na minha adolescência manifestava alguma curiosidade sobre assuntos relacionados com a natureza mental do ser humano. Indagava-me sobre quais as motivações que estariam por trás de determinados comportamentos e de determinados pensamentos. Na altura, pouco sabia sobre a função do psicólogo, mas o que sabia foi quanto bastou para afirmar “Vou ser psicóloga”. Com a decisão tomada, comecei a investir em literatura relacionada com estes assuntos. Lembro-me de ler Freud e de ficar com a sensação de que não tinha percebido nada.

Qual a sua formação?

Licenciei-me em Psicologia (5 anos) na Universidade Lusófona e iniciei pouco tempo depois a minha prática clínica. Foi com a prática de consultório que percebi que a Licenciatura foi apenas uma base, desde então, a formação contínua tem sido de extrema importância. Neste momento, encontro-me a concluir um Doutoramento (6 anos) na área Clínica e da Saúde, na Universidade de Salamanca, e ainda estou em formação em psicoterapia psicanalítica (4 anos) na Associação Portuguesa de Psicoterapia Psicanalítica (APPSI). Quando o trabalho desenvolvido pelo psicólogo segue esta orientação, o percurso académico acaba por ser longo devido à natureza do processo psicoterapêutico. Temos, acima de tudo, uma grande responsabilidade em ‘mãos’. A pessoa que nos procura apresenta-se muitas vezes num estado de sofrimento mental que condiciona em muito a sua vida. Muitas vezes, não percebe o que se está a passar com ela e precisa de aliviar e tratar a sua dor. Mas não é só do tratamento da doença mental que nos ocupamos. A psicoterapia é também o veículo que nos conduz a um melhor auto-conhecimento.

Atualmente que tarefas fazem parte do seu dia-a-dia como psicóloga?

Desde há alguns anos estou dedicada à Psicoterapia, à avaliação psicológica e à orientação escolar e profissional de alunos. Em Psicoterapia acompanho pacientes que procuram este tipo de tratamento em casos de ansiedade, fobias, pânico, depressão, entre outras perturbações do foro psíquico; ou pacientes que procuram a Psicoterapia para se conhecerem melhor, para lidarem melhor com algumas situações, para se compreenderem e para melhorarem o seu relacionamento com os outros. Há vários motivos pelos quais as pessoas procuram Psicoterapia, embora não seja, na maioria das vezes, uma decisão fácil de tomar. Na avaliação psicológica dou resposta a casos de pessoas que precisam fazer uma avaliação deste género por questões judiciais, por questões de reforma antecipada, entre outros motivos. Na orientação escolar e profissional, acompanho alunos em fases decisivas dos seus percursos académicos como o 9º e o 12º anos quando se deparam com a área que vão seguir em termos académicos e/ou profissionais.

No seu trabalho, e que a faz sorrir todos os dias?

Tenho a grande sorte de trabalhar numa área de que gosto muito e isso faz toda a diferença no meu dia-a-dia. Em contexto psicoterapêutico, aprecio sobretudo a mudança, a evolução e o crescimento das pessoas. É uma profissão muito gratificante e bastante rica em aprendizagem.

E o que menos gosta… Ou não gosta tanto?

Da posição que a Psicologia ocupa em Portugal, do desconhecimento sobre a área, da falta de respostas ao nível da Saúde Mental e do descrédito e desrespeito pelo sofrimento da pessoa que adoece. Com alguma sorte, o paciente procura esta especialidade como das últimas alternativas (se não a última) a ser ponderada. Existe uma tendência muito forte para esquecermos que temos um corpo e uma mente que comunicam sem barreiras e que por vezes o adoecer do corpo pode estar associado ao adoecer da mente. Há muitas doenças que são do foro psicossomático e por isso devem ter o tratamento adequado. Assim, a psicologia devia ser considerada um cuidado básico de saúde e estar mais acessível à população em geral.

Que mensagem deixa aos alunos que pensam enveredar por uma carreira ligada à Psicologia e estão com medo das saídas profissionais?

A Psicologia como profissão acaba por ser um mundo de opções dada a sua aplicabilidade. Atualmente, existem várias especializações em Psicologia, o que faz com que, mediante essas especializações, o psicólogo possa trabalhar em autarquias, hospitais, centros de saúde, escolas, empresas, tribunais, prisões, instituições, forças de segurança, etc. É preciso pensar sobre o que motiva o aluno nesta área; pensar sobre as suas capacidades e dificuldades em lidar com situações que fazem parte da área. A formação contínua torna-se um requisito fundamental, principalmente quando se trata de acompanhamento psicoterapêutico. Aqui, a licenciatura por si só, não nos torna psicólogos e muito menos ‘mestres’ em Psicologia aos 23 anos.

Mesmo em tempos de crise, precisamos de mais psicólogos em Portugal?

Os psicólogos fazem cada vez mais falta e não me parece que tenhamos excesso de psicólogos se proporcionalmente considerarmos o estado da Saúde Mental em Portugal. O que falta é colocá-los a exercer as suas funções. Portugal é dos países com maior taxa de doença mental da Europa. A Organização Mundial de Saúde prevê que a depressão seja a principal doença do século. Não é difícil imaginar que quem devia estar na linha da frente deste enorme problema psicossocial seriam psicólogos e psiquiatras. Ambas as especialidades são por excelência destinadas a tratar este tipo de doenças. Por isso, os receios que existem atualmente prendem-se mais com o mercado de trabalho em si e com a situação económico-politica do país. Os alunos que equacionam esta área, ou qualquer outra, devem fazer um balanço consciente entre o que os motiva nesta área e as dificuldades gerais do mercado de trabalho. Ainda assim, as dificuldades não se devem constituir como impeditivos do aluno seguir aquilo que gosta. Seremos cada vez melhores naquilo que fazemos, se o fizermos com gosto.

Consulta Online da Revista Mais Educativa:
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Consulta em PDF da Revista Mais Educativa:
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